Alunos de medicina fazem protesto
Estudantes afirmam que plano pedagógico não está sendo cumprido por falta de professores e infraestrutura
Fonte: Bahiagora
Insatisfeitos com problemas estruturais do seu curso, estudantes de medicina da Universidade Estadual de Feira de Santana realizaram uma mobilização interna nas instalações da instituição, com o objetivo de chamar a a tenção dos gestores para os problemas enfrentados pelos alunos e futuros médicos.
Em nota pública divulgada, os estudantes relatam à realidade do curso e suas insatisfações:
CARTA PÚBLICA
“Nós, estudantes do curso de Medicina da Universidade Estadual de Feira de Santana, vimos, através desta, denunciar a situação em que este curso de encontra.
O curso de Medicina da UEFS tem duração de 6 anos, sendo os 4 primeiros denominados ciclo básico (realizado em estrutura físicas da UEFS e em Campos de práticas diversos) e os dois últimos denominados internato (realizado principalmente no Hospital Geral Clériston Andrade).
Para explicitar a estrutura pedagógica do curso, o ciclo básico anual, enfocado na metodologia Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) e preconizada pelo Ministério da Saúde, é constituído de um tripé: Módulos de Tutoriais, de Habilidades Clínicas e Atitudes e de PIESC (Práticas de Integração Ensino, Serviço e Comunidade). As atividades são:
· Módulo de Tutorial: Atividades tipo Tutorial, Conferências, aulas práticas e consultoria;
· Habilidades: Aulas teóricas e atividades práticas clínicas e laboratoriais; e
· PIESC: Aula teórica, práticas na comunidade/Unidades de Saúde da Família (Educação em Saúde, consultas, visitas domiciliares), ambulatório e pronto atendimento nas Policlínicas.
O internato é dividido em ciclos das 5 áreas básicas médicas (Ginecologia e obstetrícia, Pediatria, Clínica Médica, Clínica Cirúrgica e Saúde da Família) constituídas de ambulatório, enfermaria, terapia intensiva, pronto atendimento e cirurgia nos hospitais, policlínicas, CAPS e centros de referencias.
Essas atividades abrangem uma carga horária total de 9.740 horas, sendo 5.250 horas para o ciclo básico e 4.000 horas para o internato, além de 490 horas de atividades complementares. Por se tratar de curso de longa duração – 6 anos – com uma densa quantidade de atividades, sua carga horária abrange aproximadamente o dobro da carga horária total dos demais cursos de graduação (média de 4.500 horas). Outro fato é que a metodologia ABP necessita de uma relação docente/discente maior que na metodologia tradicional.
Diante do exposto o curso de medicina precisa de no mínimo 95 professores, sendo 40 para o ciclo básico e 55 para o internato.
Atualmente temos 52 professores, dos quais 39 concursados e, dentre eles, 7 com carga horária parcial. Este fato leva ao não cumprimento do planejamento pedagógico (por exemplo, falta de aulas, excesso de estudantes para um professor num campo de práticas, módulos sem professores, falta de especialistas para áreas específicas), interrupção total das atividades por 4 meses entre o 4º e 5º ano, inatividade de algumas comissões (apoio pedagógico, capacitação docente, de infra-estrutura, entre outras).
Outro agravante, é que 13 dos docentes do curso são professores substitutos (contratação REDA) e, por seu caráter temporário, a curto prazo, ocorrerá uma diminuição do corpo docente. Outro ponto é que, segundo o parágrafo único do artigo 25 da Lei Estadual 7176/97, a proporção máxima de professores substitutos é de 20% do quadro docente do departamento, o curso de medicina encontra-se acima do máximo estipulado para o departamento. Esse fato atua diretamente na curta permanência dos docentes REDA (não possuem vantagens do concursado, buscam outros concursos) e no não interesse de outros profissionais em participar da Seleção (aguardam um concurso público, definitivo, para alterarem toda a estrutura de vida e disponibilizarem a carga horária para a UEFS). Isso leva a uma constante saída de professores e muita dificuldade em preencher as vagas REDA.
Um dos principais impedimentos para a contratação por concurso público é que a UEFS atingiu o quadro máximo de vagas estipulado pela Lei Estadual 8.823/2003. Então, cobramos do Governo a ampliação imediata do quadro de vagas da UEFS com aberturas de concurso público, inclusive porque existem cursos em implantação ainda sem reconhecimento pelo MEC. Este não é apenas um problema do curso de Medicina, mas de toda a universidade, o que deflagra a inércia do governo na resolução definitiva da situação.
Atreladas ao problema dos docentes, as deficiências de infra-estrutura do curso são críticas. O curso funciona com apenas uma sala de aula com recursos audiovisuais para o ciclo básico, no laboratório de informática os computadores estão quebrados e/ou as máquinas defasadas. A Unidade de Habilidades Clínicas e Morfo-função possui dimensões reduzidas, sem climatização adequada e serviço de manutenção, o que leva à deterioração e inutilidade dos aparelhos e disposição inadequada para as práticas. A alocação do curso no Centro Administrativo Universitário I foi em caráter provisório e já se estende por seis anos com estes problemas. Com base nisso, reivindicamos do Governo a readequação total e imediata da infra-estrutura do curso.
O Hospital Geral Clériston Andrade, estadual, tem sido inadequado a prestação de serviços para a população da região. Isso não é diferente para as atividades acadêmicas que lá ocorrem. A Biblioteca tem espaço insuficiente, acervo com poucos exemplares e edições desatualizadas e o ambiente é inadequado para o estudo, além de não possuir um laboratório de informática. Há apenas um auditório para todas as atividades e este é insuficiente. O número de ambulatórios é insuficiente, a emergência tem estrutura inadequada para o atendimento e aprendizado. Estes fatos nos levam a propor a readequação total do HGCA para hospital de ensino.
A luta dos estudantes do curso de medicina da UEFS vai além da busca pela inquestionável qualidade de ensino e formação dos futuros profissionais de saúde. Nós entendemos que a UEFS é uma universidade pública, inserida não apenas no espaço geográfico do semi-árido, mas em toda sua complexidade sócio-cultural, tendo como meta cumprir seu papel social. Todos os seus cursos, portanto, devem exercer plenamente tal função.
Diante do exposto, os estudantes de Medicina da UEFS deliberaram ESTADO DE MOBILIZAÇÃO TOTAL, com o seguinte calendário de paralisações do curso:
- 05/03/2009 – Mobilização interna com ato no Pórtico, passeata pelo Campus da UEFS e Reunião com as instâncias da Universidade, Ato Público no Centro da Cidade; e
- 10/03/2009 – Mobilização externa com atos públicos e audiências com instâncias do Governo”.
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